Medicina

Neuromodulação: ensinando ao cérebro o caminho da cura

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Você já ouviu falar em neuromodulação? Esta técnica utiliza correntes elétricas de baixa voltagem, de forma não invasiva, no couro cabeludo, com o objetivo de modificar ou corrigir um comportamento inadequado ou uma doença. “A ideia é utilizar essas correntes elétricas para aumentar ou inibir disparos de neurônios no córtex cerebral, reforçando ou bloqueando as conexões entre eles. É o que chamamos neuroplasticidade”, explica o Dr. Rauph Guimarães, neurologista, membro titular da ABN (Academia Brasileira de Neurologia).

“O cérebro nada mais é do que uma rede de neurônios que se comunica por meio de eletricidade. O neurônio, ao conduzir essa eletricidade, gera uma química, os neurotransmissores, principalmente dopamina, serotonina e adrenalina. São esses neurotransmissores que determinam o comportamento”, reitera o Dr. Rauph. O neurologista lembra, porém, que a química não trabalha sozinha: a genética, a história de vida, as memórias de cada um também interferem no comportamento.

O uso de correntes elétricas para fins terapêuticos já é bastante disseminado desde 40-50 A.C; com o uso do peixe-torpedo por Scribonius Largus para tratar enxaqueca e esquizofrenia, porém, ficou restrito devido ao mau uso no período da II Guerra Mundial. Na década de 1960, especialistas retomaram os estudos sobre o tema, em especial o psicólogo James Olds. Um dos fundadores da neurociência moderna, Olds comprovou que o cérebro é capaz de se autorregular e que, estimulando eletricamente determinadas áreas, há mudança de comportamento direcionadas àquilo que causa prazer. No Brasil, a técnica começou a ser reutilizada a partir da década de 1990.

A estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) pode ser utilizada para as mais variadas doenças e problemas de comportamento e humor, como depressão, pânico, Mal de Parkinson, dor crônica, doença de Alzheimer e reabilitação de pacientes que perderam a fala ou determinados movimentos devido a AVC  ou acidente que tenha causado algum trauma. É também indicada para fibromialgia, lesões de medula espinhal, problemas de memória, hiperatividade, problemas de equilíbrio, insônia e zumbido no ouvido. “Além disso, pode ser usada por pessoas saudáveis que querem otimizar sua performance”, acrescenta Dr. Rauph.

As histórias de sucesso da técnica são muitas. O militar Rogério Anunciação de Souza, 38 anos, há anos reclamava de um zumbido no ouvido, tinha síndrome do pânico e neuropatia. Depois de percorrer vários profissionais, descobriu a estimulação cerebral. Em apenas duas sessões, já percebeu melhora até no sono e no humor. “O zumbido ainda existe, mas não o incomoda mais, e ele conseguiu parar o uso de altas doses de tranquilizantes para dormir”, conta Dr. Rauph.

Julia da Fonseca, de 77 anos, sofreu um acidente vascular cerebral em 2010 e não falava uma palavra nem realizava movimentos no lado esquerdo do corpo desde então. Após cinco sessões de estimulação cerebral, já está conseguindo falar que está com fome e chamar as filhas, movimenta pé e coxa e já tenta manipular objetos com a mão esquerda . Delecina de Souza Pardinho, de 75 anos, sofria de polineuropatia diabética, tinha dores crônicas e severas e, mesmo usando morfina, não via melhora. Com a estimulação cerebral, ela se livrou do medicamento. “Quando conheci a técnica, minha vida mudou. Hoje, ainda sinto um pouco de dor, mas nada se compara ao que era antes. Já consigo até andar”, conta.

O tratamento de neuromodulação é feito em consultório. Cada sessão dura em média 20 minutos, e é preciso fazer de 20 a 30 sessões para um bom resultado. As primeiras 10 sessões são diárias. A partir da terceira semana, o paciente comparece ao consultório somente uma ou duas vezes por semana, dependendo do caso. Serão necessárias manutenções, que podem ocorrer periodicamente após o término do tratamento. O custo é bastante inferior às despesas com o uso contínuo de medicamentos. As reações aparecem em até 3% dos pacientes e consiste em vermelhidão no local da aplicação, coceira, dor de cabeça, naúsea, tontura e alterações de sono.São leves e transitórias e ocorrem durante os primeiros dias de tratamento. Como os demais orgãos do corpo, o cérebro também precisa de treino e exercício. “A partir do momento que seu cérebro aprende, continuará querendo aprender, melhorando a cada dia”, diz o neurologista.

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