Infiltração do joelho
Com a técnica da viscossuplementação, pacientes com artrose e outras doenças que acometem a cartilagem articular podem ter vida normal
Devido ao envelhecimento e também por outros fatores, a cartilagem que reveste nossas articulações, especialmente os joelhos, vai se desgastando a ponto de um osso acabar atritando no outro. As consequências disso são dores horríveis e deformidades que limitam o dia a dia do indivíduo, prejudicando seu bem-estar. Essa é a artrose, uma doença inflamatória e degenerativa das articulações (juntas) do corpo, caracterizada por comprometer a “capa” que reveste as extremidades ósseas.
Sobrepeso, fatores genéticos, falta de exercícios, excessos no uso da articulação, sobrecarga em atividades físicas e o envelhecimento são as principais causas da artrose, que já afeta a vida de 10 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Estudo da Dor (SBED). De modo geral, a artrose no joelho é um dos comprometimentos mais graves dessa articulação e acomete principalmente pessoas com mais de 45 anos. Entretanto, indivíduos com histórico familiar da doença ou sobrepeso, ou que praticam corrida, por exemplo, podem desenvolver artrose no joelho ainda jovens, em torno dos 30 anos.
“Não existe ainda um tratamento definitivo para a artrose, que possa ser usado em todos os pacientes e que seja capaz de regenerar a cartilagem gasta. Vários estudos vêm sendo realizados no mundo todo e esperamos, em breve, novos avanços e soluções que estejam disponíveis para todos”, afirma o ortopedista e traumatologista Dr. Adriano Karpstein, especialista em Medicina do Esporte, Cirurgia Artroscópica e Cirurgia do Joelho, que atua nos hospitais Vita e Marcelino Champagnat, em Curitiba.
De acordo com o médico, os tratamentos conservadores, ou seja, aqueles que não precisam de cirurgia, têm a finalidade de aliviar os principais sintomas – a dor é o mais importante deles – e retardar a evolução da doença. Dentre as várias possibilidades de tratamento conservador atualmente disponíveis, o especialista indica a viscossuplementação. “É uma técnica que consiste em infiltrar na articulação um medicamento de alta viscosidade, que irá melhorar o ambiente intra-articular, aliviando a dor e retardando o desgaste”, explica.
A bancária Bruna da Silva, de 25 anos, que já havia corrigido a patela cirurgicamente, precisou também fazer a viscossuplementação, devido a uma falha genética na cartilagem da articulação. “Sentia muita dor no joelho, que ficava inchado, afetando o meu trabalho, pois preciso me locomover muito, subir e descer escadas todos os dias. Somente depois dessa infiltração fiquei livre da dor, ganhei mais movimentos e passei a ter vida normal”, comemora a jovem.
O mesmo alívio teve a dona de casa Dircéia Janaina B. Montemezzo, de 31 anos, que, devido à falta de orientação e uma sobrecarga nos joelhos na academia, passou a ter dores constantes, inchaço e ouvia estalos ao se movimentar. “Como tenho dois filhos pequenos que pedem colo, subo escadas frequentemente e tenho os afazeres de casa, a situação foi piorando e o tratamento com corticoides não foi suficiente. Há um mês fiz a viscossuplementação e não sinto mais nada. Voltei para a academia e já uso salto alto todos os dias”, destaca a paciente recuperada.
O medicamento é semelhante a um gel e funciona como se fosse um lubrificante, diminuindo o atrito entre as superfícies em contato, o processo inflamatório e a dor. Estudos mostram que o medicamento estimula a produção natural do líquido sinovial articular com melhor viscosidade. O tratamento é utilizado em outros países há mais de duas décadas, mas somente nos últimos anos começou a ser utilizado no Brasil com maior frequência. É um procedimento rápido e relativamente simples, que pode ser feito em ambiente ambulatorial, com anestesia local. “Após a aplicação, o alívio da dor e a melhora da mobilidade articular são evidentes, e o paciente pode retomar suas atividades cotidianas, devendo apenas evitar grandes esforços com o joelho por alguns dias”, explica Dr. Karpstein.
Evitando a cirurgia
As aplicações podem ser repetidas de tempos em tempos, dependendo do grau da artrose e do medicamento utilizado. Apenas alguns dos medicamentos existentes no mercado mundial estão disponíveis no Brasil, e a recomendação é de que os pacientes procurem sempre bons profissionais, especialistas, que tenham experiência em cirurgia de joelho e profundo conhecimento para avaliar cada caso, identificando se é necessária a viscossuplementação, qual o melhor medicamento, a dose adequada e o número de aplicações. “O paciente precisa fazer alguns exames e ser examinado por um especialista para a indicação do tratamento mais adequado para o seu caso”, enfatiza Dr. Karpstein.
No caso do administrador de empresas Ronaldo Jancer Cunha, de 64 anos, uma artrose no joelho foi a consequência de cirurgias desnecessárias realizadas no passado. Vários anos depois, com a doença já avançada, ele teve de se submeter a uma artroscopia para se livrar da dor e das limitações. “Quando consultei um especialista no assunto, descobri o equívoco dos tratamentos anteriores e tive que fazer uma artroscopia para resolver o problema. Há um ano estou totalmente recuperado, sem dor e andando normalmente, inclusive fazendo academia. Recuperei 100% a minha qualidade de vida, graças a esse tratamento inteligente”, elogia o paciente, que poderia ter evitado a cirurgia e usado a técnica da viscossuplementação, se tivesse, desde o início, feito o tratamento correto.
Como funciona a articulação
A articulação do joelho é formada por dois ossos, unidos entre si pela cápsula articular e por outras estruturas, como ligamentos, tendões e meniscos. As extremidades ósseas da articulação são revestidas por cartilagem, um tecido branco brilhante, que forma uma superfície regular e lisa para que os ossos possam se movimentar entre si. O líquido sinovial, produzido pela sinóvia – membrana que reveste internamente as paredes da articulação –, é responsável pela nutrição, lubrificação e proteção da cartilagem articular, sendo bem viscoso e elástico, como um gel lubrificante.
“Numa articulação com artrose, o líquido sinovial falha nas suas funções, porque sua viscosidade está diminuída e o efeito de lubrificação e absorção de impactos está reduzido”, esclarece Dr. Karpstein. A viscosidade do líquido sinovial se deve à presença do ácido hialurônico, que, em situações de alta carga, age amortecendo a pressão excessiva entre as superfícies cartilaginosas. “Na articulação com artrose, moléculas bioativas inflamatórias quebram o ácido hialurônico em moléculas menores, diminuindo o seu papel na absorção de impacto e lubrificação da cartilagem. Isso ajuda no avanço do desgaste da mesma, que fica desprotegida”, completa o especialista.