Cardiologia

Coração no ritmo da saúde

Exames clínicos de última geração aliados à tecnologia das cirurgias e dos medicamentos e ao tratamento interdisciplinar, protegem, evitam e curam muitas doenças cardíaca

coracao-no-ritmo-da-saude+centro-do-coracao

A vida pulsa no ritmo do nosso coração. Essa “máquina” vital para o funcionamento do corpo humano bate, em média, 72 vezes a cada minuto, somando mais de 100 mil batimentos ao longo de um único dia. Acontece que às vezes esse movimento sai do ritmo, para de funcionar da forma como deveria. Nessa hora, contar com exames de alta tecnologia pode ser a chave para descobrir pequenas “falhas” antes que elas se tornem um grande problema.

Cardiologista do Centro do Coração, com mais de duas décadas de experiência, Dr. Ricardo Rodrigues aponta que na atualidade é possível ter mais clareza e precisão nos diagnósticos através do auxílio de exames clínicos fundamentais para a análise do médico, os check-ups.

Entre as novidades tecnológicas, o médico cita a ressonância magnética nuclear como um dos grandes avanços. O exame detecta e acompanha doenças nas válvulas e músculos cardíacos, descobrindo inclusive causas de miocardiopatias. “Através dele é possível fazer o diagnóstico de aneurisma do ventrículo esquerdo, o que antes era difícil, e delimitar o local exato do problema antes da cirurgia. Assim, o médico realiza a operação sabendo onde está o problema, não deixa grandes cicatrizes no paciente e a intervenção tem melhor resultado”, afirma Dr. Rodrigues. Além disso, ao identificar um aneurisma na aorta, por exemplo, o cardiologista pode acompanhar a doença e indicar a cirurgia em um momento que seja mais apropriado, sem antecipar o procedimento por não saber a extensão do aneurisma.

O estudo do pericárdio – membrana que reveste o coração – também pode ser feito pela ressonância. Um excelente caminho para se diagnosticar pericardites agudas ou crônicas. “É um exame demorado e de alto custo, mas quando bem indicado é essencial para se ter mais clareza no diagnóstico”, diz o especialista.

A tomografia das coronárias permite ao cardiologista analisar essas estruturas em detalhes. “O exame não substitui o cateterismo, mas quando é preciso ver a anatomia das coronárias, ele é muito útil”, explica o cardiologista. Já o ecocardiograma, que tem cada vez mais resolução e qualidade de imagem, ajuda em diagnósticos sem a necessidade de realizar exames invasivos.

Cada procedimento tem suas indicações e benefícios que são avaliados pelo cardiologista durante a consulta. O Ecostresse, por exemplo, é útil para identificar o que está provocando dores no peito de um paciente e que não apresentam causa definida. “Trabalhamos com probabilidades. Os exames ajudam a confirmar ou afastar diagnósticos de doenças”, completa Dr. Rodrigues. Por isso, a avaliação clínica segue como passo primordial no dia a dia dos médicos. “Nada substitui essa avaliação, a tecnologia existe para completar o diagnóstico. Se bem utilizada, ela é muito útil”, aponta.

No campo da pesquisa de medicamentos, grandes avanços devem aparecer nos próximos anos. Dr. Rodrigues aposta na farmacogenômica como tendência: o medicamento certo para o paciente certo. “Vai chegar uma hora em que teremos medicamentos individualizados para cada grupo de pacientes, cada um responde de uma forma diferente. O clopidogrel, por exemplo, é rejeitado por alguns organismos. Existe uma parcela da população que é resistente a ele e, devido a falta da ação desse remédio, apresenta trombose quando coloca prótese como o stent. Vai chegar o momento que com a farmacogênica esses pacientes serão identificados. Teremos a era dos remédios inteligentes”, adianta. Mas tanta tecnologia só faz – e fará – sentido quando bem direcionada. “É preciso ter utilidade. Alguns exames, por exemplo, têm contraindicações, radiação, e é preciso ser bem indicado”, orienta o médico.

Com a informação disponível 24 horas por dia pela internet, revistas e programas jornalísticos, os pacientes do século XXI

estão mais informados, o que na visão do Dr. Rodrigues é um ponto positivo. “Eles têm mais consciência da importância de tomar os medicamentos de forma correta”, avalia. Nessa maior conscientização, as pessoas estão mais atentas aos cuidados que desde o início da humanidade são válidos: praticar atividades físicas regularmente e cuidar da alimentação. “Toda essa tecnologia de recursos não adianta nada se não for aliada aos cuidados. No fim de tudo, tem que controlar o peso, comer pelo menos duas porções por dia de frutas e verduras, fazer exercícios físicos e dormir bem. Quem dorme menos de 7 horas por dia aumenta as chances de sofrer um infarto”, alerta Dr. Rodrigues.

 

Avaliação aumenta segurança dos atletas

Toda essa tecnologia é também uma aliada dos atletas de alta performance. Na busca da perfeição, eles vão ao limite do corpo. E um problema no coração pode ser fatal. Para evitar esses perigos, o cardiologista Dr. Laércio Uemura orienta a avaliação cardiológica para todos.

“Nesses atletas vamos atrás do que causa a morte súbita. O objetivo é identificar o indivíduo que tem risco de morte relacionado ao esporte”, aponta.

Ele pondera que a taxa de mortalidade é baixa, mas quando acontece uma morte em quadra ou em campo, o mundo todo se mobiliza e o fato funciona como um alerta para a importância da avaliação inicial. Segundo Dr. Uemura, em atletas jovens, com idade abaixo dos 35 anos, o grande perigo está nas cardiopatias congênitas. Muitas delas são assintomáticas e o primeiro sinal pode ser justamente a morte súbita. “Na avaliação, pesquisamos se existe alguma alteração congênita, como a cardiomiopatia hipertrófica, que é genética”, indica o médico.

Buscar o histórico familiar do atleta, realizar exames físicos e um eletrocardiograma são os primeiros passos para se confirmar ou descartar doenças. “Podemos detectar sopro ou algumas alterações e, para alguns casos, solicitamos também a ressonância magnética. Com essa avaliação sabemos se a pessoa tem alguma patologia ou não”. Dr. Uemura lembra que cerca de 50% dos esportistas desenvolve o chamado “coração de atleta”, que não é uma doença. Ela acontece como uma adaptação do coração ao esforço físico.  Tanto que quando eles param com as atividades, o coração costuma voltar ao tamanho normal.

Os atletas do time de vôlei de Londrina passaram por uma bateria de exames no Centro do Coração. Disputando a Superliga de Vôlei Masculino, eles precisam ter a segurança de que tudo está bem com esse órgão tão importante. Atleta profissional há 10 anos, Pedro Azenha, conhecido como Pedrinho, veio esse ano para Londrina após defender um time na Polônia, e foi aprovado na avaliação cardiológica. “Passar pelos exames nos dá segurança, principalmente depois de descobrir que têm atletas que correm risco praticando esportes de alto esforço. É uma atitude importante da Confederação Brasileira de Vôlei”, elogia. Para ele, a evolução da medicina é uma grande aliada dos esportistas. “Ela ajuda a melhorar nosso desempenho. É fundamental para o atleta ter à disposição o que há de melhor”.

Companheiro de time, Marcelo Hergreaves segue a mesma linha de raciocínio. “Esportistas de competição acabam não se preocupando com a saúde quanto deveriam. Praticamos um esporte de alto rendimento, vamos ao limite, e por isso é importante que cada um conheça o seu”, aponta. Para ele, mesmo sabendo que são raros os casos de morte súbita pelo esforço excessivo, os exames dão tranquilidade. “É claro que não impedem que algo aconteça sem aviso, mas em muitos casos essas avaliações previnem uma tragédia”, diz Hergreaves.

Cada vez mais as pessoas estão atentas aos benefícios da prevenção. “Porém mesmo adotando todos os bons hábitos é essencial o acompanhamento contínuo de um médico. Ele sempre terá um conhecimento infinitamente maior”, afirma Dr. Uemura. E para os atletas ocasionais e “habitues” de academia, o médico alerta: os exames cardiológicos também são importantes para esses casos. “Se a pessoa for praticar qualquer atividade física que envolva competição e estresse, como o futebol, precisa fazer uma avaliação cardiológica”, pontua. Para quem quer praticar uma simples caminhada, o cardiologista afirma que a avaliação é necessária em homens acima de 35 anos e mulheres com idade superior a 45. Já para os exercícios mais fortes, como musculação, a avaliação é necessária independente da idade.

 

Unindo forças

“Esforços coordenados são mais efetivos que esforços isolados”, explica o médico cardiologista Willyan Nazima ao afirmar a importância da interdisciplinaridade, relação em que médicos e profissionais da saúde, como enfermeiros, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos e nutricionistas, interagem entre si de forma mais ativa e promovem um tratamento mais integrado. “A medicina hoje é superespecializada, existem várias subespecialidades em cada especialidade. Isso possibilita aos profissionais aprofundar os conhecimentos em um determinado foco, mas é preciso ter cuidado para não fragmentar o paciente e seu tratamento”, enfatiza Dr. Nazima.

Fatores de risco para as doenças cardiovasculares incluem idade, hipertensão, diabetes, dislipidemia, obesidade, tabagismo, sedentarismo, dieta inadequada, stress. O tratamento de pacientes com múltiplos fatores de risco pode envolver vários profissionais. O cardiologista e o endocrinologista são parceiros em elaboradas estratégias de prevenção. Pacientes que infartam tem grandes chances de ter também AVC e problemas vasculares. O geriatra e o psiquiatra são outras peças fundamentais: “as doenças do coração costumam ser mais comuns em pacientes com idade avançada. E dores no peito e palpitações podem revelar depressão e ansiedade. Por isso, conversamos bastante com os outros colegas antes de tomar decisões”, diz o médico.

“Todos sabem que é preciso parar de fumar, fazer atividade física e controlar o peso, mas é muito difícil conseguir fazer com que os pacientes mudem seus hábitos. A técnica de entrevista motivacional vem sendo utilizada por psicólogos treinados nos centros mais respeitados em todo o mundo para conseguir melhores resultados em mudança de estilo de vida. Quando conseguimos implantar as sessões de entrevista motivacional, pudemos constatar que os resultados são realmente impressionantes”, descreve.

“Nutricionistas têm empregado ferramentas fantásticas, com orientações mais práticas e até ensinando os pacientes a prepararem alimentos mais saudáveis no dia-a-dia. Esse trabalho tem trazido uma repercussão muito positiva. Temos a sorte de poder contar com profissionais que têm a cabeça aberta e conseguem inovar”, salienta Dr Nazima.

Fisioterapeutas atuam em programas de reabilitação cardiovascular com atividade física supervisionada. “Funciona praticamente como uma medicação. O exercício físico tem indicações, doses, posologias diferentes para cada paciente”, descreve. Pacientes que tiveram infartos, passaram por cateterismos, cirurgias ou angioplastias podem voltar a praticar atividade física com maior segurança. “Antes o paciente ficava em repouso prolongado e começava a se exercitar de forma tardia e insegura. Hoje sabemos que a reabilitação cardiovascular pode ser iniciada ainda na internação”, avisa o cardiologista.

Por isso, nada de trabalhar de forma isolada. O momento é de unir forças. “Os pacientes precisam ser tratados de forma coordenada, com profissionais atuando de forma sinérgica, como uma grande equipe. Isso é mais importante que qualquer remédio”, conclui Dr. Nazimas.

+ Saiba mais