Amanhã vai (pode) ser diferente
Cuidar da qualidade do sono é um aspecto fundamental para a saúde do organismo, e a presença de rono é um grande indício de problemas
Sabe aquela sensação de que não dormiu a noite inteira ou acordar como se um trator tivesse passado por cima enquanto dormia! Quem já não teve um dia desses? E que dia! Sentindo-se cansado, o trabalho não rende e você não vê a hora de voltar para a cama e renovar as energias!
Para pelo menos 4% da população adulta de todo o planeta, essa sensação é uma rotina diária. São mais de 170 milhões de pessoas que sofrem os efeitos dos distúrbios do sono. Os principais problemas estão ligados ao ronco e à síndrome da apneia obstrutiva, que são paradas respiratórias que acontecem diversas vezes enquanto a pessoa dorme e duram mais de 10 segundos. Essas paradas causam microdespertares e interrompem o ciclo do sono, vital para o descanso e a recuperação do corpo.
Já o ronco, muito mais alarmante, atinge cerca de 40% dos homens e 30% das mulheres, e, a partir dos 55 anos, 60% das pessoas sofrem desse distúrbio. Mas esse incômodo, sozinho, não é classificado como uma doença grave, porém deve servir de alerta. Afinal, o ronco pode existir sem a presença de apneia; já a apneia, só existe com o ronco. Mas ambos podem ser tratados.
O funcionário público Ronald Accioly Rodrigues da Costa Júnior, 56 anos, foi diagnosticado com ronco e apneia. Ele chegou a ter 20 despertares por hora de sono, um número considerado elevado. O exame de polissonografia mostrou ainda que Ronald tinha mais de 40 apneias durante uma noite de sono. “Até minha esposa ficava angustiada com o tempo que eu permanecia sem respirar, sem contar o barulho do ronco. Ela sempre me cutucava, principalmente, porque eu dormia antes que ela e já roncava”, conta. Apesar do número elevado de paradas, o maior problema identificado foi a baixa qualidade do sono na fase REM (Rapid Eye Movement), considerada vital para a restauração do cérebro.
Distúrbios do sono e os riscos que eles podem trazer
O sono passa por quatro etapas: N1, N2, Lento e REM. A N1 é a da sonolência; a N2 é a fase na qual diminuem os ritmos cardíacos e respiratórios; o Lento, em que há o resfriamento do corpo; e a fase REM (em português: “movimento rápido dos olhos”) é quando ocorre o relaxamento muscular, os sonhos, e as energias são recarregadas. Alguns hormônios – como a melatonina, GH e o cortisol – são produzidos em diferentes etapas do sono, exercendo importantes funções fisiológicas. “Por isso, é tão importante ficar atento aos sintomas dos distúrbios do sono, principalmente à apneia obstrutiva, pois ela compromete e bloqueia a oxigenação do organismo durante o sono. Isso causa um despertar, pois o cérebro identifica a obstrução e dá um comando para a pessoa sentar, a fim de abrir a passagem do ar . Neste momento há um microdespertar, são inúmeros durante a noite, prejudicando a qualidade do sono. A saúde geral de um indivíduo é colocada em risco, aumenta a chance de desenvolver cardiopatias, problemas cerebrais, endócrinos e circulatórios”, esclarece a Dra. Ângela Carnasciali Munhoz da Rocha, cirurgiã-dentista especialista em Tratamento dos Distúrbios Respiratórios Obstrutivos do Sono, pelo Instituto de Medicina do Sono de Bauru, que há 16 anos trata pacientes com uso da prótese intraoral.
Prótese intraoral trata o ronco e a apneia
A prótese intraoral funciona mecanicamente, pois ela realiza um pequeno avanço da mandíbula. Esse avanço é regulado gradativamente durante o tratamento para que aumente a passagem de ar. A prótese é recomendada para graus leves e moderados de apneias, os quais correspondem a 75% dos casos. Foi o que ocorreu com Ronald, que há quatro anos mantém a eficiência do aparelho, usando constantemente.
“O ronco e a apneia também são influenciados por outros fatores: anatômicos, fisiológicos e os hábitos de vida. A flacidez nos tecidos na garganta, obesidade, consumo de álcool, sedentarismo e até o uso de alguns antidepressivos interferem diretamente em sua incidência. Por isso, manter a higiene do sono, com horários regrados, uma alimentação mais leve à noite e preparar o ambiente com pouca luminosidade e ruído são tão essenciais”, enfatiza Dra. Ângela.
Ronald conseguiu resgatar a qualidade do seu sono; as apneias cessaram, assim como o seu ronco. “De acordo com a última polissonografia, eu tenho agora apenas quatro episódios de ronco por noite, é uma grande diferença. Hoje, sem as interrupções que tinha no sono profundo, pude, literalmente, voltar a sonhar!”, celebra.
“Hoje, sem as interrupções que tinha no sono profundo, pude, literalmente, voltar a sonhar”
O primeiro passo é identificar os sintomas
Identificar os possíveis sintomas ou os indícios dos distúrbios é o primeiro grande passo. Sonolência diurna, cansaço, fadiga mental, falta de concentração, irritabilidade, ansiedade, baixa libido, dores de cabeça e pelo corpo são os mais comuns. Consultar um médico especialista faz parte dessa etapa tão importante para o diagnóstico. De acordo com a Dra. Ângela, o primeiro passo é procurar o otorrinolaringologista, que, além de avaliar todo o quadro respiratório, nariz, garganta e outras estruturas, irá solicitar a polissonografia. Nesse exame, o paciente passa uma noite sendo monitorado com aparelhos e eletrodos para medir sua oxigenação, batimentos cardíacos, ronco, apneias e a síndrome das pernas inquietas, uma patologia que também causa microdespertares noturnos.
“Uma vez identificadas as disfunções, elas poderão ser tratadas via cirurgia se for uma obstrução anatômica na passagem de ar, seja no nariz, seja na garganta; com mudança de hábitos, caso for uma insônia ou a síndrome das pernas inquietas; e com aparelhos como a prótese intraoral, o CPAP ou BIPAP para ronco e apneias”, destaca a Dra. Ângela Munhoz. “Procurar um especialista aos primeiros sintomas, identificar as causas e tratar o problema é essencial para recuperar a qualidade do sono e de vida”, finaliza Dra. Ângela
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