Fonoaudiologia

A descoberta dos sons

Hoje, quando uma pessoa apresenta alguma deficiência auditiva, encontra inúmeras possibilidades de tratamento. Os avanços tecnológicos, nos últimos cinquenta anos, foram surpreendentes e não param. Seja para tratar a diminuição auditiva relacionada ao envelhecimento natural, ou para graus mais avançados de perda auditiva sensorial, severo ou profunda. Nós encontramos soluções tecnológicas, sempre aliadas ao trabalho de equipes de profissionais especializados.

O implante coclear (IC) é considerado o maior avanço na área. Tudo começou quando dois médicos franceses, Dr. André Djourno e Dr. Charles Eyriès, descreveram os resultados de uma cirurgia de estimulação do nervo auditivo em um indivíduo surdo na década de 1950. A técnica consistiu na implantação de um fio metálico na cóclea em um paciente com perda auditiva profunda.

O implante equivale a uma prótese eletrônica que estimula diretamente as fibras do nervo auditivo e substitui parcialmente as funções da cóclea, transformando sinais sonoros em sinais elétricos que são transmitidos ao centro cerebral da audição. Na década de 1980, com a revolução dos microprocessadores, os avanços tecnológicos na audiologia foram impressionantes. Os implantes auditivos passaram a ser digitais, menores e mais precisos; surgiram então os primeiros implantes multicanais, que estimulam diferentes regiões da cóclea.
Atualmente, estima-se que existam cerca de 500 mil pacientes implantados no mundo. “Em Curitiba o implante coclear é realizado há mais de quinze anos, e efetuamos pelo menos dois implantes cocleares por mês”, destaca o médico otorrinolaringologista Dr. Maurício Buschle, chefe da equipe de implante coclear do Hospital Iguaçu.

De acordo com Dr. Maurício, o implante coclear, também conhecido como “ouvido biônico”, é indicado para pacientes que apresentam perda severa e profunda da audição, tanto unilateral como bilateral, quer dizer, de um ou ambos os ouvidos. “Isso significa possibilitar, até mesmo, quem nunca ouviu começar a escutar. Para isso é preciso treinar a compreensão dos sons e da fala, isso é, aprender. Tudo isso em várias etapas. O implante em crianças que nascem com perda auditiva severa ou profunda deve ocorrer o mais breve possível, para que o impacto da privação sensorial nos primeiros anos de vida seja minimizado e os resultados sejam satisfatórios. Mas os adultos também são beneficiados com a tecnologia, em todas as partes do mundo”, revela o cirurgião otorrinolaringologista.

De repente um som

Giovanna Lopes da Silva nasceu surda, com perda bilateral profunda de audição. Conforme a sua mãe, Solange, o problema foi percebido quando o bebê não atendia ao chamado dos pais. “Foi então que decidimos levá-la ao otorrinolaringologista. Após alguns exames, foi constatado que Giovanna tinha perda total da audição. Foi um grande baque para nós”, diz a mãe. Solange conta que sua filha começou a usar aparelho aos 2 anos de idade, mas não obteve nenhum resultado. Em 2007, com 3 anos, Giovanna fez o implante coclear bilateral. “Quando ligaram o dispositivo auditivo, eu comecei a chorar, porque foi impressionante. Ela conseguiu ouvir seu primeiro som. Eu realmente não sei expressar em palavras o que senti naquele momento!”, revela Solange, emocionada.

A pequena Anna Caroline da Silva Nichele nasceu com apenas um resquício de audição no ouvido direito. Os pais de Anna, ao perceberem que sua filha não se assustava com barulhos altos e não reagia a sons, procuraram logo um profissional. Rafael Luiz Nichele, o pai, relata que através dos exames constataram o problema de audição e que seria recomendado um implante. Em 2007, Anna colocou o primeiro implante coclear. Para Rafael Luiz, o implante permitiu que sua filha usufruísse das utilidades e prazeres da audição, sobretudo proporcionando maior socialização e conhecimento. “Hoje ela tem 12 anos, e ficamos muito satisfeitos com o resultado que proporcionou. Anna só tira o aparelho para tomar banho, dormir, ou quando a irmãzinha mais nova chora!”, celebra o pai.

Doutor Maurício explica que essa é a primeira etapa e que somente após trinta dias da cirurgia, que é minimamente invasiva, o aparelho é ativado. “Existe toda uma fase de adaptação e de acompanhamento, pois o paciente, seja criança ou adulto, precisa aprender a ouvir, a identificar sons e ruídos. Tudo é mapeado e são feitos ajustes até o som se aproximar do real”, revela o médico. Depois disso o som é regulado a cada 2-3 meses no primeiro ano, 4-6 no segundo e a cada seis meses no terceiro. O Hospital Iguaçu tem uma ala destinada só para esse trabalho, com fonoaudiólogos, médicos e psicólogos.

Avanços e conectividade

Bruna Rodrigues de Soldi nasceu com perda bilateral profunda de audição. A sua mãe, Solange, conta que ela começou a usar aparelho desde 1 ano e meio de idade e em 2008 ela se submeteu o implante coclear para recuperar a audição, o que fez toda diferença.

Por causa dos avanços dos implantes, Bruna, que hoje está com 21 anos, trocou em março deste ano o processador por um que proporcionou melhora na condição auditiva, pois seus níveis de audição ainda eram considerados baixos. “Ela passa também por uma adaptação, mas já relata melhoras significativas”, enfatiza a mãe. “A nova tecnologia é sem dúvida uma evolução, além do avanço audiológico, ela permite aos pacientes que se conectem diretamente a inúmeros aparelhos (celulares e outros), tudo via bluetooth, e podem programar, mudando a sensibilidade e o volume dos sons”, declara o Dr. Maurício Buschle.

Giovanna, que hoje tem 13 anos, também acaba de trocar o dispositivo por essa tecnologia mais eficiente. Além de ser mais compacto e clean, o aparelho traz os benefícios da conectividade, tanto para celulares, televisão, telefone; e é possível até passar músicas para ele. “Tudo para facilitar as pessoas a terem uma vida normal, sem restrições, interagindo, socializando e se desenvolvendo”, ressalta o especialista. Anna também planeja a troca pelo dispositivo; segundo seus pais, essa nova tecnologia fará sua filha desfrutar de uma audição comprovadamente mais avançada e inteligente.

Cirurgia minimamente invasiva

A técnica é minimamente invasiva, com o uso de um microscópio cirúrgico. “Através de uma pequena incisão atrás da orelha é realizado o acesso à cóclea e insere o feixe de eletrodos, que é o implante coclear. O procedimento dura em média uma hora e meia para um ouvido e menos de três horas quando realizamos nos dois ouvidos, bilateral”, declara Dr. Maurício. Os pacientes no pós-operatório geralmente ficam de seis a dez horas no hospital e ganham alta, na maioria, no mesmo dia. O otorrino revela que os procedimentos cirúrgicos, além do implante coclear, também avançaram, tanto na restauração dos condutos auditivos, do tímpano, da cadeia ossicular, quanto na implantação cirúrgica de próteses de reconstrução, que restauram outras funções do aparelho auditivo.

09Alerta à importância de se evitar perdas auditivas

Dr. Maurício Buschle faz questão de ressaltar a importância de se evitar perdas auditivas, de reduzir o uso de fones de ouvido, não ficar muito tempo no celular, deixar de ir constantemente em lugares de alta frequência sonora e usar sempre equipamentos de proteção auricular nos ambientes recomendados. “A maioria dos jovens, adolescentes e adultos que realizam o IC tiveram perdas neurossensoriais severas ou profundas, outros sofreram perdas condutivas e realizaram outros procedimentos como aparelhos auditivos ou implantes de ouvido médio e ancorados no osso. O importante é saber que essas perdas estão relacionadas a otites crônicas, doenças degenerativas do sistema condutivo, infecções, otosclerose, doenças autoimunes, traumatismo craniano, surdez psicológica e até uso de medicamentos ototóxicos. Já nas crianças, a origem é congênita, hereditária, proveniente de doenças inflamatórias ou infecciosas na gravidez, como rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, entre outras doenças perinatais. Por isso é sempre bom estar em dia com as visitas ao otorrino”, enfatiza Dr. Maurício.

 

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