Gordura boa, gordura má
Pesquisas trazem novos questionamentos: Será que a primeira é tão inofensiva quanto se considera e a segunda é tão vilã assim
O Jornal A Folha de São Paulo publicou recentemente matéria sobre uma pesquisa que questiona os resultados da troca da gordura saturada (e origem animal) por aquelas advindas pelos óleos vegetais (insaturadas). A troca começou a ser recomendada pelos médicos para melhorar a dieta e proteger o coração na década 60. Assim, como é exemplificado na própria matéria, a banha de porco usada na cozinha saiu de cena e entraram os óleos de milho e girassol, entre outros.
Mas, e agora, o que de fato significa o resultado dessa pesquisa? Que podemos simplesmente abrir mão da gordura considerada e podemos nos esbaldar naquela considerada ruim?
A nutricionista da Vida Leve, Dra. Bianca Araújo de Oliveira, observa que assuntos sobre gorduras sempre são interessantes e geram polêmica, uma vez que para a maior parte da população, gordura é gordura e ponto, e tem que ser evitada ao máximo. “Não é bem assim”, observa.
Segundo ela, temos tipos diferentes de gorduras e todas de certa maneira, e na dose recomendada, são importantes para nosso organismo. “Até mesmo a gordura dos queijos amarelos, a famosa saturada, tem como uma das funções armazenar vitaminas A, D, E e K nas células. Dito isso iniciamos a polêmica: gordura má, gordura boa.”
Corrida contra as gorduras
De acordo com a especialista, hoje, pode-se afirmar que a gordura saturada não é tão má e a insaturada tão boa. Ela explica que em 1957, o fisiatra americano Ancel Keys (1904-2004) iniciou os debates sobre a função das gorduras no organismo e em 1961, um estudo feito por ele, colocava a gordura saturada no banco dos réus.
“Deu-se aí, uma corrida contra as gorduras, mas em contra partida, o consumo de carboidratos, principalmente refinados teve um crescimento vertiginoso. Hoje, no Brasil, 57% das calorias ingeridas são provenientes de açúcar, farinha branca, arroz branco, macarrão e pão.”
A nutricionista ressalta que a gordura saturada nem sempre é vilã, “pois sabe-se que existem várias versões”, diz citando o seguinte exemplo: “a gordura esteárica é proveniente do cacau e ao invés de se ligar ao colesterol ruim no fígado, ela é convertida em gordura insaturada e trás os mesmos benefícios do azeite de oliva”, exemplifica.
“Já a gordura insaturada tida como boa, pode ser uma cilada se consumida em excesso, pois, como toda gordura, possui 9 Kcal por grama, e se consumida além da quantidade considerada normal, também leva ao excesso de peso”, orienta. “Com isso, outros problemas decorrentes da obesidade podem aparecer”, complementa.
“Sendo assim, podemos afirmar que o equilíbrio alimentar é o segredo de uma vida saudável, uma vez que trocar gordura por carboidrato ou qualquer outro grupo alimentar nunca será saudável. Precisamos ingerir todos os grupos alimentares em suas devidas proporções, até mesmo a gordura tida como má”, recomenda.
Consumo recomendado de gorduras:
10% gordura saturada: queijos, leite e carne
10% gordura poli-insaturada: óleo de girassol, soja, milho
15% gordura monoinsaturada: azeite de oliva, castanhas, abacate