Loucas ou vitimas da modernidade?
De reprimidas a independentes, as mulheres sempre foram associadas a diversas doenças mentais muito mais que os homens.
As mulheres sempre foram associadas a problemas mentais mais que os homens. Não há uma resposta única do motivo pelo qual isso ocorre, nem ao menos se tem uma data certa para documentar o principio da discussão. O que se sabe é que no decorrer dos anos as mulheres já conquistaram muitos direitos. Até o século vinte elas não eram nem donas dos próprios direitos, eram submissas aos seus pais e maridos. Se fossem julgadas como loucas pelos homens ao redor, era provável que os psiquiatras confirmassem o diagnóstico sem mesmo fazer qualquer tipo de avaliação. Uma mulher que contrariasse as regras sociais impostas por homens eram consideradas loucas. De acordo com o psiquiatra Dr. Lincoln César Andrade da clinica Equilíbrio Mulher a psiquiatria como outras áreas de estudo é fruto de um contexto histórico e certamente foi influenciada por condições culturais de cada época do desenvolvimento.
Todo tipo de rebeldia tinha um único diagnóstico, transtorno mental. As mulheres viviam sob a sombra dos homens. Naquela época era normal afirmar que elas só deveriam sair de casa em três ocasiões: para serem batizadas, para casarem e para serem enterradas. A maioria casava-se por volta dos 12 anos e, se aos 15 não tivesse marido, já era praticamente solteirona. Os homens tinham plenos poderes sobre suas vidas. Era perfeitamente aceitável que um marido, ao viajar, confiasse a esposa a um “recolhimento”, espécie de convento onde ela ficaria a salvo das tentações do adultério. As mulheres nem sequer tinham o direito de escolher seu próprio esposo, pois suas vidas eram traçadas desde pequenas por seus familiares e eram moldadas conforme o sistema da sociedade. Essa sociedade exigia a submissão delas ao marido ou aos pais e essas concordavam sem questionamento. Caso contrário eram chamadas e tratadas como loucas. Nos dias de hoje nenhuma doença mental pode ser considerada uma forma de rebeldia. Dr. Lincoln afirma que esse tipo de abordagem é própria da desinformação e de linhas de pensamento que querem fazer acreditar que a doença mental pode ser uma revolta contra a organização social. “Doença mental é algo sério, causa imenso sofrimento e está muito distante de qualquer forma de rebeldia. Acontece que é comum confundir traços de personalidade mal adaptativos com doenças. Confundir pressões culturais exercidos contra as mulheres com doença mental é uma forma de desinformação”, explica Dr. Lincoln.
Mas nos dias de hoje como explicar essa tendência? As mulheres já não são submissas aos homens. Desde a revolução feminina elas vêm conquistando cada dia mais espaço. Desempenham inúmeras funções. Além de profissionais são mães, donas de casa, mulher entre outros papeis. Se no passado eram consideradas loucas caso tivessem a ousadia de se rebelar contra as regras sociais impostas pelos homens, hoje a vida moderna tumultuada por múltiplas funções faz com que as mulheres continuem mais propensas a distúrbios mentais. As estatísticas apontam essa tendência. Dr. Lincoln explica que as mulheres estão sujeitas a maiores fatores de risco emocional do que os homens por razões biológicas e ambientais. “Ao longo do ciclo de vida feminino as mulheres passam por mudanças hormonais na menarca, gestação, puerpério e menopausa. Tais mudanças hormonais afetam neurotransmissores relacionados ao humor, ao controle da temperatura corporal, a qualidade do sono, entre outras ações. Do ponto de vista ambiental as mulheres trabalham fora de casa e em casa, cuidam dos filhos e dos pais idosos, ganham menos, sofrem imensa pressão da publicidade para que estejam sempre belas, magras”, declara o psiquiatra. Dr. Lincoln alerta para o fato de que existe uma indústria da (des) informação a respeito de saúde que realmente leva muitas pessoas a se enquadrarem em diagnósticos diversos. “Tal fato se deve a abundância de informações na internet e outros meios de comunicação, porém informação não é sinônimo de conhecimento, de modo que a consulta a bons médicos é essencial para esclarecimento e diagnóstico, se houver um”, finaliza.