Agulhas que estimulam a autocura do corpo
Utilizada como terapia complementar em quase todas as especialidades da área da saúde, a acupuntura é hoje recomendada pela Organização Mundial de Saúde
Desde a sua origem, há 400 anos antes de Cristo, a milenar medicina chinesa não só sobreviveu, mas ganhou respeito, notoriedade e modificou conceitos. Ela deixou de ser tratada como algo que transcende a realidade para ser uma ferramenta efetiva, científica, que estimula o sistema nervoso central e periférico, liberando neurotransmissores, hormônios e compostos químicos que estimulam, aliviam, relaxam, fortalecem e colaboram para o melhor funcionamento do organismo. A acupuntura moderna vem sendo cada vez mais incorporada como alternativa terapêutica aos procedimentos da medicina convencional, a ponto de ser considerada uma especialidade por dez conselhos de classe, com destaque para o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional e o de Medicina.
“Não podemos deixar de mencionar que a maior contribuição da acupuntura e da medicina oriental é a forma do seu ‘saber’, ou seja, passamos a enxergar o paciente como um todo numa visão de que tudo tem que estar em equilíbrio e que neste equilíbrio o corpo tem a capacidade de autocura”, revela a Dra. Paôla Luma Cruz, fisioterapeuta especialista em Acupuntura e em Saúde da Família, que atua na Clínica Bondaruk, em Curitiba. Hoje, com essa mesma visão holística que a medicina vem tratando e prevenindo tantas doenças causadas pelo ritmo de vida moderno, sedentarismo, má alimentação e estresse. A acupuntura atua como terapia complementar para se chegar ao resultado desejado.
Dra. Paôla explica que do ponto de vista científico, a acupuntura induz à liberação de substâncias vasoativas por processo inflamatório asséptico, provocado pelo microtrauma acupuntural. Isso melhora a oxigenação celular e as trocas metabólicas pelo aumento do aporte sanguíneo local, ativa o sistema imunológico, inibe o processo inflamatório articular, atua no sistema linfático, provoca efeito analgésico e relaxante muscular, entre outros benefícios. “Por esta razão, é muito utilizada e recomendada atualmente em diversas áreas da medicina tradicional”, revela a especialista, que vem empregando de forma eficaz a acupuntura para o tratamento de dores musculoesqueléticas, fibromialgias, distúrbios da ansiedade, estresse, insônia, cefaleias, além de lesões osteomusculares, como a hérnia de disco, LER/DORT, entre outras.
Até mesmo doenças mais graves apresentam melhora com a associação da acupuntura. Foi o que aconteceu com a turismóloga Micheline Aparecida Tavares, de 33 anos, que em novembro passado sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico e incluiu a acupuntura na sua reabilitação. “Fiquei com o lado direito paralisado e muito ansiosa. Os movimentos dos braços e mãos, que normalmente eu recuperaria em torno de seis meses, consegui melhorar em apenas dois, graças à acupuntura”, revela a paciente, que também atribui à terapia das agulhas a melhora do seu estado emocional, sua respiração e até do funcionamento intestinal. “A acupuntura tem sido espetacular na minha recuperação, pois está promovendo o equilíbrio do meu corpo”, salienta.
O empresário Weslley Renatto Juniory Pasa, de 24 anos, também teve uma experiência positiva com a acupuntura. “Vivia ansioso, estressado e nervoso, a ponto de prejudicar meus relacionamentos no trabalho e na família. Depois que comecei a fazer acupuntura, melhorei de imediato e também parei de sentir dores no estômago causadas por uma úlcera”, revela. O estresse do jovem empresário estava em um nível tão elevado, que um dia chegou a desmaiar na clínica antes de um atendimento. “Estava passando tão mal que tiveram que me socorrer. Mas isso faz parte do passado. Hoje estou mais calmo, em paz comigo mesmo e de bom humor com a vida”, comemora Weslley.
Vantagens da ACUPUNTURA na visão de profissionais da área
Dra. Solange Baronceli é outra fisioterapeuta especialista em acupuntura e explica que a terapia pode ser útil em praticamente todas as patologias, visando principalmente à prevenção das doenças. “É eficaz para a depressão, ansiedade, estresse, obesidade, tabagismo e, com fins analgésicos, para todos os tipos de dores, em afecções respiratórias, gástricas e intestinais. Também pode melhorar muito a qualidade de vida de pacientes crônicos”, completa.
A fisioterapeuta Camila Mikoda também indica a acupuntura como terapia complementar. ”Ela nos ajuda muito no alívio de dores musculoesqueléticas, crônicas, dores de cabeça, insônia e ansiedade. Por ser uma terapia ‘natural’ tem a vantagem de não fazer uso de medicamentos”, destaca. Segundo a fisioterapeuta, é possível utilizar a acupuntura com várias linhas de tratamento: acupuntura sistêmica (tradicional – agulhas pelo corpo), crânioacupuntura de Yamamoto (agulhas na região da cabeça – trata sintomas neurológicos), acupuntura auricular (agulhas, sementes ou esferas, bolinhas metálicas na orelha – trata sintomas como dores, enxaquecas, compulsões e insônias), quiroacupuntura (agulhas na mão – tratamento parecido com a sistêmica). ”Pode ser utilizada ainda com enfoque na fisioterapia estética, auxiliando no processo de emagrecimento, tratamento de rugas, estrias, celulite, entre outros”, esclarece Dra. Mikoda.
As fisioterapeutas Camila e Solange reafirmam que todos precisam se certificar se o profissional acupunturista tem nível superior, se cursou pós-graduação em acupuntura com no mínimo 1200 horas/aula e buscar alguém recomendado por outro profissional da saúde de sua confiança. “Um profissional que não esteja preparado põe em risco o quadro de saúde e pode agravar algumas patologias”, reforça Dra. Solange.
“Sempre fui encantada pela acupuntura a ponto de ter iniciado a pós-graduação, mas acabei por me dedicar à área de correção postural pelo método pilates”, revela a fisioterapeuta Dra. Ana Rita Bondaruk, responsável pela Clínica Bondaruk. Ela comenta que sempre busca um profissional qualificado que proporcione o tratamento eficaz em sua clínica, aplicando os benefícios da técnica em seus pacientes. “Hoje vejo esses resultados na prática, principalmente com a minha mãe, que apresentava um quadro clínico bastante comprometedor e teve uma grande melhora na sua qualidade de vida, voltou a sorrir e até a brincar com a netinha como nunca fez antes. Se soubéssemos que o resultado seria tão surpreendente, com certeza, teria feito há muito mais tempo”, garante Dra. Ana.
A ACUPUNTURA é regulamentada pelo Conselho Nacional de Saúde e recomendada pela OMS
A fisioterapeuta acupunturista Dra. Sandra Silverio Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Fisioterapeutas Acupunturistas, afirma que hoje a técnica é aceita como uma possibilidade terapêutica eficaz, cientificamente comprovada, respeitada nos meios ditos acadêmicos, usada como tese de mestrado e difundida em revistas científicas mundiais, além de recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O crescimento do interesse pela acupuntura no Brasil culminou da necessidade de normalizá-la como especialidade dos profissionais de saúde. Em 1985, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional adotou a acupuntura como especialidade do fisioterapeuta. Depois dessa resolução, outros conselhos de classe seguiram o mesmo caminho. “Atualmente no Brasil, a acupuntura é regulamentada como especialidade de dez profissões: fisioterapeuta, enfermeiro, biomédico, médico, farmacêutico, psicólogo, educador físico, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e odontologista”, acrescenta Dra. Sandra.
Em março de 2006, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) publicou no Diário Oficial da União a Portaria n° 971 que determina e recomenda a implantação no Sistema Único de Saúde (SUS) das terapias ditas naturistas, entre elas a fitoterapia e a acupuntura, através do atendimento de profissionais concursados e especialistas nessa área. “É importante que o profissional acupunturista tenha, além da graduação na área da saúde, o título de especialista pelo Conselho de Classe ou Sociedade de Especialistas. São referências fundamentais para assegurar à população condições adequadas de qualificação do exercício da acupuntura”, adverte Dra. Sandra, que também atua na direção de um Instituto de Pós-Graduação na área.
Dra. Paôla Luma faz questão de ressaltar que a utilização da acupuntura só traz vantagens, tanto para tratamento quanto para terapia auxiliar. “É um tratamento acessível, só utiliza agulhas descartáveis, traz excelentes resultados e não tem efeito colateral. O único efeito colateral é quando não é feita por profissional habilitado”, destaca a especialista.
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