Medicina

Cirurgia na Coluna mais benefícios, menos riscos

Técnica cirúrgica minimamente invasiva para o tratamento de patologias da coluna pode permitir alta em 24 horas e vida normal em poucas semanas

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Fazer uma cirurgia de coluna pela manhã e, à noite, já caminhar pelo hospital, para no dia seguinte receber alta, parece cena de filme de ficção. Mas é o que acontece quando o caso clínico tem boa evolução. Se no passado a cirurgia de coluna representava uma sentença de imobilidade ou morte para o paciente, hoje significa libertação e resgate da qualidade de vida, tanto para atletas como para indivíduos comuns. Essa realidade se deve ao avanço tecnológico da Medicina, que vem desenvolvendo técnicas minimamente invasivas para causar menor comprometimento dos tecidos adjacentes às incisões. Isso resulta em menor sangramento, menos dor, menor tempo de internação e melhor e mais rápida recuperação no pós-operatório, já que trata-se o problema sem causar danos desnecessários às estruturas internas do paciente.

Ao contrário das cirurgias convencionais, abertas, que têm alto grau de complexidade e grandes incisões, as novas técnicas cirúrgicas empregadas para tratar as doenças da coluna surpreendem pela sua eficácia e benefícios ao paciente. Um procedimento que vem sendo amplamente utilizado nos Estados Unidos há uma década chegou recentemente ao Paraná. “Trata-se da técnica chamada XLIF – eXtreme Lateral Interbody Fusion, ou, em português, artrodese lombar por via extremo-lateral. É uma cirurgia minimamente invasiva para a coluna lombar e torácica, que reduz consideravelmente os riscos inerentes às técnicas tradicionais”, explica o ortopedista Dr. Pablo Sobreiro, certificado nos Estados Unidos para realizar a XLIF e habilitado em cirurgia videoendoscópica da coluna.

O mecânico soldador Juliano Santos Sousa, de 31 anos, tinha duas hérnias de disco que causavam muita dor lombar e o impediam de fazer atividades simples, como trocar um pneu de carro, praticar esportes ou mesmo permanecer sentado por pouco tempo. “Fiz a cirurgia em novembro do ano passado e em dois dias já estava andando sem o auxílio de ninguém. Hoje, minha vida está muito melhor, não sinto dor e voltei a fazer academia. O procedimento foi maravilhoso”, elogia o paciente.

Não foi diferente para a dona de casa Terezinha Inês e Silva, de 52 anos, que durante oito anos sofreu com dores na coluna que refletiam na perna direita, até a altura do joelho, devido a uma lesão de disco. “Não conseguia mais andar. Consultei vários médicos, tomei injeção de corticoide e anti-inflamatórios, mas como meu caso era complicado, a cirurgia convencional não era indicada. Até que fiz a cirurgia minimamente invasiva há cerca de um ano, colocando três parafusos e uma prótese. Hoje, faço longas caminhadas e frequento academia; nasci de novo”, comemora.

 

Sucesso em atletas

A técnica XLIF foi desenvolvida nos Estados Unidos com a ajuda de um brasileiro, o neurocirurgião Dr. Luiz Pimenta – diretor do Instituto de Patologia da Coluna (IPC) de São Paulo e presidente da Sociedade Internacional para o Avanço da Cirurgia da Coluna (ISASS). Os resultados alcançados são surpreendentes, inclusive em atletas, como é o caso do ex-jogador da NBA Bill Walton e do lutador de MMA Nate Quarry, que foram submetidos à técnica cirúrgica do acesso lateral (como também é chamada), apresentando ótimos resultados.

“O XLIF é realizado através de pequena incisão feita na lateral do abdômen e pode tratar diversas condições patológicas da coluna, como escoliose degenerativa, hérnia de disco, degeneração discal, estenose de canal medular, artrose facetária e espondilolistese, com ou sem colocação de parafusos e/ou próteses. Porém, cada caso precisa ser avaliado para ter a indicação da técnica adequada”, avisa o especialista, que passou por um treinamento intensivo junto com o próprio Dr. Pimenta e sua equipe.

 

A técnica XLIF

Nas técnicas tradicionais, para chegar até o ponto do problema, o cirurgião precisa fazer uma grande incisão nas costas ou no abdômen do paciente, além de afastar os músculos, o que pode causar lesões. Nesse caso, geralmente há grande perda de sangue, em alguns casos há necessidade até de transfusões e uma recuperação extremamente lenta, em UTI, ficando por vários dias internado. Já a técnica XLIF é realizada pela lateral do corpo, através de uma pequena incisão pela qual são inseridos tubos dilatadores que chegarão até a coluna progressivamente, não interferindo nos músculos ou nervos do paciente. Dessa forma, torna-se viável a ação direta na principal articulação da coluna, o disco intervertebral. E, o melhor: possibilitando, nos casos de boa evolução, a alta hospitalar em 24 a 48 horas.

“Primeiro, através de eletrodos, o aparelho de monitoração eletroneuromiográfica (EMG) reconhece o corpo do paciente, fazendo uma varredura para verificar se o campo cirúrgico está livre. Inserimos, então, através da incisão, os tubos dilatadores pelos quais será realizada a cirurgia. Pelo monitor, conduzimos o procedimento verificando a distância que o equipamento está do nervo ou medula, sendo que um aviso sonoro alerta qualquer aproximação excessiva para evitar lesão à raiz nervosa ou medula espinhal”, esclarece Dr. Sobreiro. O EMG funciona como um GPS, mantendo distância de nervos e da medula e tornando o procedimento seguro.

Um espaçador chamado cage (ou “gaiola”) é colocado no local onde antes existia o disco intervertebral doente, ou seja, entre duas vértebras, fazendo com que o espaço entre elas seja aumentado e esta articulação, que gerava a dor, seja estabilizada. “O espaço por onde passam os nervos também é aumentado. Com isso, os nervos não são mais pinçados, aliviando a dor ciática”, esclarece o ortopedista. Além disso, com o espaçador, as vértebras ficam realinhadas, corrigindo a espondilolistese (condição de desalinhamento vertebral).

Para o aposentado Abdo Alexandre, de 71 anos, a técnica foi a solução para suas dores constantes na coluna. “Fiz fisioterapia, tomei remédios, até que a dor passou a refletir na barriga da perna, me impedindo de andar. Já tinha sido operado, mas três anos depois a doença evoluiu com mais um desgaste de disco. Fiz o procedimento com XLIF e, no dia seguinte, graças à boa recuperação, voltei para casa andando e sem dor”, destaca o paciente.

 

Confira as vantagens da técnica XLIF no tratamento de patologias da coluna:

  • A técnica não acessa os músculos da região posterior, preservando as estruturas nervosas do canal medular;
  • Minimiza a agressão às estruturas internas importantes para a funcionalidade da coluna e do corpo;
  • Gera baixa perda sanguínea;
  • Por ser uma cirurgia relativamente mais rápida que a convencional, apresenta reduzido tempo de anestesia geral;
  • O procedimento ampliou a possibilidade de tratamento para as pessoas que têm restrições à cirurgia tradicional de coluna;
  • Permite que o paciente se levante e ande até mesmo no dia da cirurgia;
  • Gera menos cicatrizes, pois procedimentos minimamente invasivos resultam em menor rompimento dos tecidos
  • Como o cirurgião acessa o espaço do disco intervertebral pela lateral do corpo, a XLIF não interfere nos músculos sensíveis das costas, ossos ou ligamentos e, por isso, causa menos dor;
  • De modo geral, a técnica requer apenas uma noite no hospital, em comparação com vários dias de imobilidade e de internação após procedimentos tradicionais;
  • A recuperação completa leva algumas semanas, em comparação com os seis meses ou mais no caso dos procedimentos tradicionais.
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