Avanços da Medicina

Radiologia Intervencionista – Medicina sem cortes

Método que originou a Angioplastia é utilizada em diversas outras doenças como câncer de fígado, aneurismas, embolia pulmonar, miomas uterinos, na desobstrução de artérias e veias e até em alguns casos de traumas graves

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Foi pelas mãos do radiologista americano Dr. Charles Dotter, que a Radiologia Intervencionista nasceu, na década de 1960. Seu primeiro procedimento foi a desobstrução da artéria da perna, através de sua dilatação, o que hoje é conhecido como angioplastia.

Este ramo não faz somente o diagnóstico, mas, sobretudo, oferece o tratamento. “Tratar por meio de métodos não cirúrgicos, por cateterismo, o que chamamos de método percutâneo, através da pele, pelas veias e artérias, com aparelhos de altíssima tecnologia que guiam o profissional”, revela Dr. Alexander Ramajo Corvello, médico especialista em Radiologia Intervencionista. “Através de incisões de dois a três milímetros, introduzem-se diversos tipos de cateteres para tratar várias patologias”.

O procedimento se inicia com um fio-guia que é inserido na artéria do paciente por um pequeno furo (de 01 a 03 milímetros). Em seguida, pela mesma incisão é inserido um cateter (tubo que mede apenas alguns milímetros de diâmetro) e depois um líquido chamado contraste é injetado, tornando os vasos visíveis para o aparelho de angiografia, assim, o especialista consegue enxergar o que acontece dentro dessa trajetória.

É um procedimento não cirúrgico, que não utiliza anestesia geral e os pacientes necessitam de um curto período de internação, diminuindo os riscos de infecções.

Os profissionais são normalmente médicos radiologistas ou cirurgiões que fazem dois anos de residência em um dos centros de formação de profissionais, reconhecidos pela Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista – SOBRICE. Após o término da residência, o candidato é submetido a uma prova específica para receber a titularidade de Radiologista Intervencionista.

Esta especialidade pode ajudar no tratamento de diversos tipos de problemas, de forma segura e com menos riscos, comparando-se aos diversos procedimentos tradicionais. Confira alguns deles:

Tratamento do câncer de fígado:

Responsável por cerca de 4% das mortes causadas por câncer no Brasil, o que em números aproximados é igual a 400 mil pessoas por ano. Somente quem passa pelo diagnóstico consegue entender o trauma. A melhor opção seria a remoção do tumor, mas isso nem sempre é possível. “A cirurgia é desaconselhada em casos de tumores muito grandes ou aqueles que crescem para dentro de grandes vasos sanguíneos, ou ainda, quando existem vários tumores distribuídos pelo fígado”, revela Dr. Alexander Corvello.

A Radiologia Intervencionista pode intervir nesses casos através de dois métodos: a quimio-embolização e ablação por radiofrequência.

Quimioembolização – consiste na injeção de pequenas partículas que ficam impregnadas do quimioterápico como se fossem micro-esponjas. Essas pequenas esferas são injetadas dentro das artérias, que irrigam o tumor, cortando seu alimento que é o sangue, seguido de seu fechamento. Esse quimioterápico é liberado lentamente, em até 45 dias, o que pode ocasionar a destruição do tumor, ou fazê-lo diminuir consideravelmente.

Ablação por radiofrequência – é a introdução de uma pequena agulha dentro do tumor. Esta agulha é conectada a um gerador que emite micro-ondas ou radiofrequência, queimando e destruindo o câncer.

Desobstrução dos vasos e artérias

Poucos sabem, mas a obstrução da passagem de sangue pelas veias pode gerar consequências graves, como derrame cerebral, perda de membros, comprometimento de órgãos vitais, infarto, derrames, pressão alta e necrose do intestino.

A Radiologia Intervencionista trata do problema de forma eficaz, por meio da dilatação da artéria e a colocação de um stent (pequena prótese metálica tubular). Assim, as placas de gordura ficam depositadas entre o stent e a parede do vaso e o sangue passa a circular normalmente.

Tratamento dos aneurismas

O aneurisma é a dilatação da artéria, que pode ocorrer em qualquer lugar do corpo. O maior risco está em seu rompimento, que pode ser fatal.

A Radiologia Intervencionista é capaz de tratar dos aneurismas de forma simples e segura. Através de um cateter, preenche o aneurisma com microfilamentos de platina, conhecidos como micromolas, excluindo por completo tais dilatações das artérias, que quando se rompem, podem levar a morte súbita. Além disso, pode ser introduzido também um stent recoberto por um tecido impermeável, semelhante ao utilizado pelos astronautas. Ele funciona como uma mola, que se abre dentro da artéria, alargando-a e a tornando normal novamente,  excluindo o aneurisma.

Embolia de pulmão

É o deslocamento de coágulos, geralmente, das pernas. Eles se deslocam, passam pelo coração e vão parar no pulmão, entupindo a circulação deste órgão, fazendo com que a pessoa não consiga fazer a troca gasosa, morrendo por asfixia. A estatística americana contabiliza 600 mil casos novos ao ano, em que 11% morrem antes de chegar ao hospital.

Nesses casos, a Radiologia Intervencionista utiliza um cateter inserido por um minúsculo corte na virilha, que será levado até o pulmão onde o especialista injeta uma substância que dissolve o coágulo e refaz a circulação.

Miomas uterinos

Sinônimo de feminilidade e fertilidade, o útero é bastante importante para as mulheres. É ali onde a vida é gerada. Por isso, a descoberta de algum tipo de doença que eleve o risco de sua retirada é amedrontadora. Tumores benignos também conhecidos como fibromas ou leiomiomas, nada mais são do que o crescimento anormal das células musculares do útero. Apesar da explicação simplificada, os problemas causados pelos miomas não são nada simples e alteram bastante a qualidade de vida das mulheres: cólicas, dores, incômodo durante a relação sexual, sensação de peso na barriga, sangramentos excessivos, perda espontânea da urina e prisão de ventre. Em contrapartida, a tecnologia está a favor das mulheres. A medicina desenvolveu técnicas que, se não acabam com o problema, diminuem os sintomas substancialmente. Primeiramente é necessário que a paciente tenha sintomas que realmente alterem sua qualidade de vida, “pois os miomas assintomáticos geralmente não requerem qualquer tratamento e devem ser acompanhados clinicamente”, avisa Dr. Alexander Corvello.

A técnica utilizada para o tratamento dos miomas é chamada de embolização, que consiste na introdução de um cateter por um furinho de, no máximo 02 mm na região da virilha, onde passa a artéria femoral. Guiado por imagens de altíssima definição, o radiologista conduz o cateter até as artérias uterinas que irrigam os miomas. Depois de localizá-las, injeta micropartículas de hidrogel para obstruir essas artérias. Assim, a embolização atua bloqueando os vasos sanguíneos que “alimentam” os miomas. A técnica não é cirúrgica e dura, em média, meia hora. Ainda de acordo com Dr. Corvello, ela não interfere nas funções normais do útero, que passa a receber nutrientes através das circulações colaterais, as quais se mantêm saudáveis. “O órgão é preservado, não é retirado, a saúde se reestabelece e muitas mulheres engravidam pela primeira vez ou voltam a engravidar”, cita o especialista.

Traumas graves:

Cada vez mais os acidentes automobilísticos tiram vidas. Estima-se que cerca de 40 mil pessoas são afetadas seriamente todos os anos por este tipo de acidente que muitas vezes deixam vítimas. A Radiologia Intervencionista, através da Embolização, tornou-se já há muito tempo um dos principais armamentos para o tratamento destes tipos de pacientes que, na maioria dos casos, não suportam a cirurgia convencional. Como nos traumas graves da bacia e pernas. Por ser muito vascularizada, esta região pode sangrar e levar o paciente a morte. Os métodos realizados por cateterismo são capazes de identificar a artéria ou a veia sangrante e fecha seletivamente, salvando vidas.

Com os avanços da tecnologia e os equipamentos de imagem de alta definição, a Radiologia Intervencionista aumentou sua capacidade de enxergar dentro do corpo humano, sendo capaz de oferecer aos pacientes e médicos novas possibilidades de tratamento. São mais de 60 diferentes procedimentos para os mais diversos tipos de doença. Suas aplicações podem ser encontradas no site da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular – SOBRICE. “A RI auxilia inúmeras especialidades como a oncologia, ginecologia, cardiologia, neurologia, vascular e até a ortopedia; em que é possível cimentar ossos desgastados e comprometidos pela osteoporose, por exemplo”, explica Corvello, que também é médico diretor do Instituto de Radiologia Intervencionista do Paraná (Inrad/Endorad), membro da SOBRICE e das Sociedades Americana e Europeia de Intervenção e chefe dos serviços de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular dos Hospitais Santa Cruz, São Vicente, Universitário Evangélico de Curitiba e Vita Curitiba.

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