Avanços da Medicina

As chances de viver com qualidade de vida

Pacientes com câncer de fígado podem viver mais e melhor tratando a doença com procedimentos minimamente invasivos

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Nem tudo está perdido, embora o diagnóstico de câncer seja sempre recebido com muita preocupação e temor não só pelo próprio paciente, mas também por sua família. Isso acontece porque a doença está invariavelmente associada à dor, sofrimento e perda. O que muitos não sabem é que os progressos da medicina permitem hoje que uma tecnologia avançada trate o problema com procedimentos cada vez menos invasivos, reduzindo os riscos ao paciente e otimizando sua recuperação. Um exemplo disso é o câncer de fígado, cujo tratamento passou a contar nas últimas décadas com a quimioembolização, técnica da radiologia intervencionista que vem sendo usada com muito sucesso no tratamento deste tipo de tumor. Nos últimos anos, devido à comprovada eficácia do método, os próprios oncologistas reconhecem nesta especialidade médica um passo de grande valia para o diagnóstico e tratamento multidisciplinar de diversas neoplasias, auxiliando na cura da doença.

Entre as doenças hepáticas, o câncer de fígado é a complicação mais grave e frequente, tanto que a cada ano cerca de 1,5 milhão de novos casos desse tipo de câncer de fígado são registrados no mundo. No Brasil, essa incidência gira em torno de três mil casos por ano. Cerca de 50% dos pacientes com câncer no figado apresentam cirrose hepática, que pode estar associada ao alcoolismo ou hepatite crônica, causada por infecção pelo vírus da hepatite B e C. No entanto, as doenças hepáticas são provenientes também das aflotoxinas (encontradas nos amendoins contaminados) e outros agentes tóxicos, além de algumas doenças raras. O que chama muita atenção no diagnóstico do câncer de fígado é o pequeno tempo de evolução, ou seja, geralmente o paciente apresenta uma doença muito avançada, com um tempo de evolução dos sintomas curto.

Os principais sintomas dos pacientes com câncer de fígado são a dor abdominal, massa abdominal, distensão, anorexia, mal-estar e icterícia, que é quando a pessoa fica de coloração de pele amarelada. Alguns pacientes podem evoluir com ruptura espontânea do tumor, sentindo dor súbita. Sem falar que o tempo que o tumor leva para duplicar de tamanho é muito curto em comparação com outros tumores (em média 4 meses).
O tratamento ideal seria a remoção cirúrgica do tumor, mas isso nem sempre é possível. “A cirurgia é desaconselhada em casos de tumores muito grandes ou aqueles que crescem para dentro de grandes vasos sanguíneos, como a veia cava inferior, ou outras estruturas vitais”, explica Dr. Alexander Ramajo Corvello, médico do Instituto de Radiologia Intervencionista Inrad e do Endorad.
Além disso, a cirurgia também se torna de difícil realização ou impraticável quando existem muitos tumores, distribuídos por todo o fígado. É quando a Quimioembolização entra em cena para combater as células cancerígenas, pois a remoção cirúrgica não é possível em aproximadamente 2/3 dos pacientes portadores de câncer primário do fígado (que se inicia nas células do próprio órgão) e em 90% dos casos de tumores de fígado provenientes de outros órgãos (metástase).  “A técnica é de cateterismo, tornando-se, assim, a intervenção minimamente invasiva e pouco agressiva”, explica o especialista.

Por dentro da técnica

A técnica de Quimioembolização Hepática é realizada por radiologistas intervencionistas, os únicos habilitados tecnicamente segundo a normativa da Associação Médica Brasileira, e consiste em, através de uma pequena incisão de 2 mm na virilha, introduzir um cateter, (pequeno tubo), com uma combinação de medicações quimioterápicas diretamente nos vasos hepáticos que nutrem o tumor, combatendo as células cancerígenas. No local, também são injetadas micropartículas para bloquear as artérias que alimentam o tumor. O objetivo deste procedimento é utilizar baixas doses de quimioterapia com maior contato deste com o tumor. Isso só é possível porque este procedimento “entrega” a medicação para dentro do tumor.
Todo o processo é realizado através de cateterismo do fígado e não desencadeia dor, pois dentro dos vasos sanguíneos não existem terminais sensitivos perceptíveis a esse estímulo. “Entre as vantagens desses procedimentos estão o menor tempo de internação (e consequente menor gasto hospitalar), recuperação mais rápida e resultados mais efetivos”, ressalta Dr. Alexander Corvello. Segundo o especialista, o procedimento diminui a agressão e a toxicidade que tais medicações podem causar para o resto do corpo e proporciona, ao mesmo tempo, maior contato do produto quimioterápico com o tumor.

Armamento poderoso no combate ao câncer de fígado

A Ablação por Radiofrequência é outra técnica disponível com objetivo de destruir o câncer e é também realizada por meio da radiologia intervencionista. O procedimento é feito através de uma agulha específica, que queima o tumor, de forma localizada, semelhante à ação de um micro-ondas, e que em casos selecionados pode tratar definitivamente o tumor por método não cirúrgico. “Este procedimento é ideal para pacientes não candidatos à cirurgia, mas principalmente àqueles com tumores de tamanho máximo de 5 cm de diâmetro, podendo inclusive ser utilizado em conjunto com a Quimioembolização, assim dar mais possibilidades de tratamento efetivo do câncer de fígado. A Ablação por Radiofrequência é ainda capaz de tratar tumores de rim, pulmão e ósseos”, explica Dr. Corvello. A técnica é realizada com a ajuda de imagens de ultrasonografia  e/ou tomografia computadorizada, com o paciente sob anestesia geral.
Devido a sua menor agressividade, o procedimento, além de proporcionar mais bem-estar para o paciente, é uma forma de conter o tumor, evitando que ele se espalhe para outras áreas através do sistema sanguíneo. O câncer de fígado é agressivo e pode progredir com facilidade para outros órgãos, impedindo a chance de cura da doença. Por isso, é preciso estar alerta para o problema, pois a maioria dos casos pode não apresentar sintomas até que o tumor cresça e se alastre pelo organismo.
”Tanto a Quimioembolização quanto a Ablação por Radiofrequência são armamentos efetivos para combate ao câncer de fígado”, destaca o radiologista intervencionista, que trabalha em conjunto com o acompanhamento de equipe médica multidisciplinar (radiologista intervencionista, hepatologista, oncologista e cirurgião), proporcionando, assim, um tratamento eficaz para a doença.
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