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Família: apoio fundamental para vencer a obesidade

Entenda como o engajamento dos familiares pode auxiliar para o emagrecimento

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Próximos de completar bodas de prata, Jonas e Márcia são aquele tipo de casal que causa inveja. Eles são divertidos, carismáticos, alegres, apaixonados (ainda se chamam de meu bebê e minha delícia!) e muito companheiros. O que se pode querer mais do que isso? Saúde! E aí é que o conto de fadas parecia estar perdendo seu encanto.
A corretora de imóveis Márcia Maria Talebi Zolnir, 43 anos, sempre foi uma mulher disposta, cheia de vida e determinada, até que a depressão e as complicações da obesidade lhe abateram, de tal forma que sair da cama era um desafio que por várias vezes ela não estava disposta a enfrentar.
O ganho de peso ocorreu de modo gradativo e por diversas razões: tratamento hormonal para engravidar, mudanças nos hábitos de vida, sentir-se sozinha durante as viagens profissionais do marido, sedentarismo, doenças familiares; enfim, situações que a levavam a ganhar peso.
“O estopim aconteceu quando minha avó adoeceu e eu passei a cuidar dela, deixando a minha vida de lado. Dediquei a ela três anos e foi a época em que mais ganhei peso. Só fui realmente me dar conta disso quando ela faleceu”, revela.
Na tentativa de reverter o quadro, Márcia tentou inúmeros tratamentos, medicamentos e programas de atividades físicas, mas não conseguia emagrecer de jeito nenhum. Pelo contrário, a cada dia engordava mais até chegar aos 119 quilos, que trouxe também a pré-diabetes e muitas dores nos joelhos e na coluna.
Ao ver que a situação havia fugido de seu controle, Márcia resolveu buscar orientações sobre a cirurgia bariátrica, e orientada pela sua psicóloga, que já a acompanhava havia anos, iniciou o processo de avaliações para o procedimento, mas encontrou a resistência do marido e dos filhos, por medo.
“Eu mesma não estava bem segura de que queria fazer a cirurgia, sobretudo sem o apoio deles, eu não faria e sei que também não receberia a liberação médica. Mas eu precisava tomar uma atitude e por isso, mesmo sem ter certeza, fui buscar informações”, recorda a corretora.
Dr. Paulo Afonso Nunes Nassif, cirurgião do aparelho digestório e coordenador de uma equipe multiprofissional de tratamento da obesidade, esclarece que, para que a cirurgia bariátrica seja realizada, o paciente precisa se submeter a uma série de consultas com profissionais de diversas áreas da saúde, que solicitam exames e avaliam em conjunto se o procedimento é a melhor solução para o caso. Muitos fatores são levados em conta: índice de massa corporal, existência de doenças associadas à obesidade, condição cardiopulmonar e, entre outros, o apoio da família.
“O envolvimento familiar é muito importante, pois a cirurgia traz mudanças não só à vida do paciente, mas a todo o seu ambiente familiar. Tanto pela necessidade de novo hábito alimentar, como pela mudança de comportamento e sentimentos, que ocorrem a partir da cirurgia. O preparo é uma fase muito importante e fará toda a diferença no resultado do tratamento, pois é nessa etapa que o paciente compreende a necessidade de transformação nos hábitos de vida. Portanto, à medida que os familiares se envolvem no processo que antecede a cirurgia, as dúvidas podem ser melhor esclarecidas sobre a cirurgia e tudo aquilo que irá ocorrer depois dela”, explica a psicóloga Marina Abagge Hortmann, integrante da equipe multiprofissional do Instituto Paulo Nassif.
A recuperação cirúrgica exige cuidados que envolvem toda a família, no preparo da alimentação, no retorno às atividades do dia a dia, e também no apoio emocional. Nesse sentido, Dra. Marina comenta: “É muito comum que, nos primeiros dias após a cirurgia, o paciente sofra alterações de humor, ora por sentir-se feliz em estar superando a obesidade e ora pela angústia da alteração brusca da alimentação. Por isso, a família precisa estar inserida no processo, pois ajuda a facilitar a identificação das dificuldades do paciente e dá o apoio necessário a ele”.
Além disso, os hábitos alimentares do obeso, de modo geral, são os mesmos da família e, por consequência, a melhora nesse fator poderá beneficiar a todos. Do contrário, se houver resistência em modificá-los, pode dificultar a adaptação do paciente. Quando a família se engaja em práticas de vida mais saudáveis, como resultado dos cuidados do operado, todos saem ganhando.
O surpreendente é que essa transformação de hábitos alimentares, que melhora a qualidade de vida e facilita o emagrecimento familiar, pode ocorrer já na fase pré-operatória, como comprovou estudo realizado pela Stanford University School of Medicine, demonstrando, ao acompanhar o paciente nas consultas que antecedem o procedimento, que os familiares também são influenciados a praticar exercícios físicos e a terem dieta alimentar mais saudável. Fato que beneficia toda a família e auxilia o paciente no processo de emagrecimento.

 

Informações claras desmistificam

É comum o paciente iniciar o protocolo pré-operatório com muitas dúvidas ou sem contar com o apoio familiar. Em geral, isso só muda com o andamento do processo, nas consultas de orientação e quando as informações ficam mais claras, desmistificando o procedimento e seus resultados. Por isso, mesmo que essa fase pareça extensa, é importante que ela seja vivenciada com tranquilidade, de maneira que o paciente chegue à cirurgia com todas suas dúvidas e de seus familiares elucidadas.
No caso de Márcia, somente após as consultas de avaliação clínica e a realização de exames, quando todos os profissionais da equipe concordaram de que a cirurgia seria o tratamento mais indicado, é que ela se convenceu e decidiu trazer seu marido para participar do processo e do programa de palestras do instituto. E assim, toda a resistência inicial foi diminuindo a cada novo encontro que Jonas participava e ia entendendo que a obesidade é doença séria, crônica, que vai muito além da força de vontade e determinação e que é um fator de risco muitas vezes superior ao da própria cirurgia.
Há um ano, após a concordância dela, da equipe e da família que a cirurgia era o tratamento mais adequado a seu caso, ela foi operada. Com 40 quilos a menos, livre da pré-diabetes e das dores articulares, há muito o que celebrar. “Descobri uma Márcia nova dentro de mim, cheia de alegria, com vontade de viver, que gosta de se vestir, passear, me arrumar… enfim me descobri apaixonada pela vida e meus filhos e meu marido talvez tenham sido os maiores beneficiados, pois hoje estou feliz” – comenta ela.
Vivenciando nova lua de mel, o casal realizou o sonho de uma viagem e já planeja outras. Além do que, a alimentação da família está mais saudável, e Márcia faz questão de ficar no pé de todos por uma vida mais sadia, e os exercícios físicos que eram tão penosos para ela hoje já fazem parte da rotina de saúde dela. “Tenho mais fôlego, disposição e não sinto dores ao me exercitar. Sabe que já estou até começando a gostar!”, conclui, aos risos.
“A cirurgia é apenas uma ferramenta que possibilita o emagrecimento, mas o seu verdadeiro objetivo é justamente proporcionar essa transformação nos hábitos de vida que fará a grande diferença no resultado do tratamento e na saúde, tanto do paciente como da sua família”, finaliza Dr. Paulo Nassif.

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